RESENHA CRÍTICA
FIGUEIREDO, Ariosvaldo. Enforcados: O Índio em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
CREDENCIAIS DO AUTOR
Ariosvaldo Figueiredo Santos nasceu na cidade de Malhador a 28 de novembro de 1923. Chegado o momento dos estudos, passou a ser aluno do Colégio Tobias Barreto, onde estudo até o quinto ano, último ano que existia no Colégio Tobias Barreto, necessitava fazer os dois anos do curso complementar, conforme legislação educacional da época. Foi, portanto, estudar no Colégio Atheneu.
Estando no Atheneu, estourou a Segunda Guerra Mundial, fonte perene de altas discussões políticas pelos estudantes. A atividade política do estudante cresceu. Não é por acaso que, em 1937, na ditadura de Getúlio, nasceu a UNE. Foi a fase áurea da UNE, porque não havia uma luta partidária, havia uma luta política.
Em 1964 foi preso como comunista, afirmando que nunca foi e, em 1980, foi convidado por Albano Franco para ser seu assessor na CNI.
Ariosvaldo foi jornalista e membro da Academia Sergipana de Letras, um dos fundadores do Jornal Gazeta de Sergipe e Professor da Universidade federal de Sergipe. Faleceu em 16 de abril de 2008.
Obras de Ariosvaldo Figueiredo: “A vida é que conta” (1961), “Dialética do Sexo e do Amor”, ensaios (1975), “O Negro e a Violência do Branco”(1977), “Enforcados”(1981), “História Política de Sergipe” (1986), coleção e estudos, “Ciências Sociais, Barbárie e Socialismo” (1997), “Sergipe: Roça Iluminada”(2003), “Questões de Direito”(2006) e tantos outros.
RESUMO DA OBRA
Em relação ao título, a palavra “Enforcada” era o nome da atual nossa Senhora das Dores, e que surgiu a partir de uma lenda que dizia que há muito tempo, durante a colonização, alguns índios foram enforcados naquela localidade.
Neste livro, Ariosvaldo explica sobre o índio em Sergipe, estudo que, face a íntima e dialética relação entre o todo e a parte, não está alheio ao conhecimento do índio, no Brasil.
I CAPÍTULO: Índio e Empresa Colonial
O primeiro capítulo deste livro, o autor ressalta o grande valor da cultura árabe para o mundo ocidental. O autor aborda também, que as riquezas naturais do Brasil foram exploradas pelos portugueses. Outro pondo importante e que ouve um choque cultural, principalmente para quem, como os colonizados, não têm o hábito da discussão e da controvérsia, leva de uma forma ou outra os que servem a classe dominante ibérica, à negociação iconoclasta, furiosa, da comunidade silvícola dominante.
O autor fala ainda sobre o sofrimento da sociedade nativa, como o massacre étnico e os abusos sexuais sofridos pelas indígenas.
Ariosvaldo comenta também sobre o modo como a escravização dos nativos ajudou a fundar os primeiros engenhos de açúcar e sobre o modo como foi dividido o território nordestino.
II CAPÍTILO: Descoberta, Cultura Nativa e Exploração
No segundo capítulo, o autor comenta como era Sergipe no século XVI, um território “explorado pelos franceses”. O autor fala sobre o índio Tupinambá, o mais comum no litoral sergipano e os que mais tiveram contato com os europeus. O autor ressalta ainda, que os índios, também em Sergipe, ensinaram aos estrangeiros a fazer e usar uma rede, gamela, pote, pilão, beiju, farinha, mingau entre outros. Fala também sobre os diversos termos indígenas, e que os índios tem ódio das pessoas que falam diferente da sua língua, ou seja, só os amigos têm a mesma linguagem, e não foi por acaso que para conquistá-los os jesuítas tiveram que aprender a língua nativa.
O autor ressalta também, o pau-brasil, que era muito procurado é o grande negócio dos colonizadores, ou seja, um negócio montado com a escravização dos índios.
Ariosvaldo, comenta que no século XIX compreende-se com mais tranqüilidade, facilidade o acesso à costa e ao interior de Sergipe.
III CAPÍTULO: Os jesuítas, Luis de Brito e Almeida e a Guerra de Cristóvão de Barros
No terceiro capítulo, o autor comenta sobre a missão jesuíta em Sergipe, em que foram enviados padres para catequizar os índios. Os jesuítas tem conhecimento do que ocorre, os índios agredidos pelas armas e a legislação portuguesa, que tudo faz para isolá-los, tática utilizada para facilitar a sua destruição. Ariosvaldo ressalta também a miscigenação que confraterniza homem, mulheres e culturas, fonte de espontânea e bonita bastardia.
O principal padre jesuíta que esteve em território sergipano, foi Gaspar Lourenço, não conseguiu desviar a cobiça pelas terras de Sergipe do então Governador Luiz de Brito e Almeida.
Luiz de Brito e Almeida, que foi sucessor de Mém de Sá, não persegue nenhum projeto de povoamento, não quer mudar os seus hábitos e costumes, nada tem a opor à escravização dos nativos, muito natural antes da sua chegada. Ele vem então para defender o seu patrimônio, escravizar os índios, matá-los se necessário. Após alguns anos da guerra cometida por Luiz de Brito e Almeida, os índios se rebelam e vingam as mortes, estupros e escravização sofrida na guerra.
IV CAPÍTULO: Sesmarias, Currais e História Traída
No quarto capítulo, o autor explica como aconteceram as doações de sesmarias em Sergipe. E não só os profanos, os religiosos disputaram com igual ou maior insistência as terras de Sergipe. Com a crescente avidez de bens matérias dos criadores de gado, que desejavam conquistar o interior de Sergipe e assim expandir as suas terras. Expande-se a fronteira pecuária, e se proliferam os currais, as tribos cedem lugares aos rebanhos. O boi vale mais que o índio, é mais importante do que o próprio homem. Os currais não demoram muito e começam a abastecer carne para a Bahia e Pernambuco.
V CAPÍTULO: Nascimento, Vida e Morte das Aldeias
No quinto capítulo, o autor comenta sobre o nascimento das aldeias, que são comunidades indígenas, aglomerações de nativos sob a direção e autoridade dos jesuítas. O jesuíta tem o intuito de unir os índios, assim diminuiria a sua resistência à colonização.
O autor ressalta também que os religiosos apoderaram-se da mão-de-obra indígena e com a substituição dos índios pelos negros, continuaram escravizados em prol do aumento de produtividade das grandes fazendas.
A Carta Régia de 1798 determina que os índios que não tem estabelecimento próprio e não tenham ocupação fixa, sejam compelidos ao trabalho público ou particulares. Já a resolução de 17 de julho de 1822 acaba o regime das sesmarias no Brasil, mais os índios continuam sendo agredidos.
Em 1854, é regulamentada uma lei que tratava sobre as terras que deveriam ser dos índios, mais na prática ela quase não era obedecida.
Ao longo dos anos, as missões foram deixando de existir. Portanto em 1851 o território dessas missões é incorporado ao território nacional, e os governantes argumentavam que não havia mais raça pura, que todos tinham se misturado à população.
VI CAPÍTULO: Últimas Aldeias ou Missões
No sexto capítulo Ariosvaldo comenta que apesar das atividades da pecuária e da agricultura já terem destruído os indígenas em sua maior parte, ainda há algumas aldeias restantes; e nelas o índio não é mais raça pura, é que já ocorreu uma miscigenação. E que a cada ano o território dos nativos vai diminuindo, por muitas vezes, são transferidos para outros locais, caso suas terras tenham despertado a cobiça dos fazendeiros. A Aldeia de Água Azeda é o território indígena que mais é cobiçado, O Barão de Estância, Antônio Dias Coelho e Mello ocasionou muitas querelas com os nativos dessa missão, exigindo ao governo a arrematação das terras da Aldeia para si. O autor ressalta também exemplos de Aldeias que sofreram abusos de proprietários de terras, como a Aldeia de Pacatuba e a Aldeia de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Japaratuba.
VII CAPÍTULO: Aldeia de Porto da Folha: Índios e Remanescentes Xocós
No sétimo capítulo, Ariosvaldo ressalta os povos Caetés e Tupinambá juntamente com outras tribos que povoavam as margens do rio São Francisco. Umas das tribos os Aramurus, ganharam uma porção de terra à beira rio por ter ajudado ao fazendeiro da região a expulsar os holandeses da foz do São Francisco.
Os Xocós faziam parte das tribos da região do São Francisco e há relatos que haviam sido encontrados Xocós também em Alagoas, Pernambuco e Bahia. Esta tribo era constituída de poucas famílias e a partir do séc. XVIII são chamados de “índios silvestres”, pois já tinham entrado em contato com os europeus. Em 1878 os Xocós são expulsos da Ilha de São Pedro pelos proprietários rurais da região. As autoridades se acomodaram e nada foi feito em prol dos índios e para evitar brigas entre os proprietários solicita que as terras da Aldeia sejam tomadas para o Império.
VIII CAPÍTULO: Grito do Sertão
No oitavo capítulo o autor explica como ocorreu a miscigenação em Sergipe, e que no litoral predominavam os europeus e descendentes, mas no sertão a população era formada por mamelucos. Estes povos foram responsáveis pelo povoamento do sertão, e que são, pois os donos das sesmarias e, mais adiante, os grandes proprietários rurais viviam no litoral, onde a comunicação com Portugal e com a capital. São esses mestiços que se tornam os pequenos proprietários, que sustentam o micro mercado interno da região; e que são responsáveis pelo trabalho duro nas grandes fazendas. Com o índio se origina o antilusitanismo, que em Sergipe há um radicalismo incomum. Para os mamelucos ser nômade era mais compatível com a natureza indígena do que o sedentarismo característico da lavoura do litoral.
IX CAPÍTULO: Palavra Última
No nono capítulo o autor mostra quais eram os mecanismos para legitimar a apropriação das terras dos índios: inicialmente era por meio da violência, depois a transferência dos índios de uma Aldeia para outra, depois a elevação das Aldeias à vilas e por último com uma lei de 1850 que incorporava as terras indígenas ao patrimônio nacional. Ariosvaldo comenta também que o massacre indígena não escandaliza a sociedade brasileira, que na maior parte, era católica. Com o pavor da Reforma aos jesuítas visam mais conquistar crentes que salvar o homem. Por isso atualmente a Igreja é tão a favor dos índios e de todos os humilhados.